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Voz da Pós-Graduação: Entrevista sobre o Programa de Pós-Graduação em Biomedicina Translacional – BIOTRANS

Em dezembro de 2014, a UNIGRANRIO obteve a aprovação pela CAPES de novos cursos de pós-graduação stricto sensu.  O Programa de Pós-Graduação em Biomedicina Translacional – com os cursos de Mestrado e Doutorado- foi aprovado nesta ocasião.  Trata-se de um Programa de Pós-Graduação interinstitucional formado pela UNIGRANRIO, pelo INMETRO e pela UEZO.

Para entender melhor o BIOTRANS, seu caráter inovador, seu perfil e sua organização, entrevistamos a  professora Dra. Virginia Genelhu de Abreu, Coordenadora Geral do BIOTRANS e Diretora de Pesquisa e Iniciação Científica da UNIGRANRIO.

Coordenadora Geral do BIOTRANS e Diretora de Pesquisa e Iniciação Científica da UNIGRANRIO
Profa. Dra. Virgínia Genelhu – Coordenadora Geral do BIOTRANS e Diretora de Pesquisa e Iniciação Científica da UNIGRANRIO

 

1) O que é o Programa de Pós-Graduação em Biomedicina Translacional?

Virginia Genelhu: O Programa de Biomedicina Translacional (BIOTRANS), incluindo Mestrado Acadêmico e Doutorado, é um Programa de Pós-graduação Interinstitucional em ciências da vida que abrange os sistemas biológicos e suas relações com as ciências clínica e translacional.  É uma experiência única no Estado do Rio de Janeiro em que a Unigranrio, uma universidade não pública, se associa ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – o INMETRO e ao Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – a UEZO, constituindo uma rede voltada à pós-graduação e pesquisa na área de biomedicina translacional. O programa é voltado para um dos mais importantes desafios da ciência contemporânea – encontrar meios para o diálogo entre pesquisadores da Biologia Celular e Molecular e pesquisadores clínicos – médicos, odontólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e outros, que estão à frente dos problemas da atenção à saúde, em estreito contato com os pacientes.

 

2) Como surgiu a ideia de um Programa de Pós-graduação tão inovador como o BIOTRANS?

Virginia Genelhu: Surgiu da reflexão feita por um grupo de professores e pesquisadores, em sua maioria previamente envolvidos em programas de pós-graduação com conceito 6 e 7 da CAPES – portanto com desempenho comparável aos dos centros internacionais de referência. Consideraram estar diante do desafio de superar as contradições que levaram, particularmente na área da saúde, a uma crise de identidade na pesquisa e pós-graduação caracterizada por fragmentação do conhecimento científico e tecnológico, poucas ações de interdisciplinaridade e falta de diálogo entre os que se dedicam à pesquisa em laboratórios de ciências básicas e o clínico que pesquisa e trata de doentes. Soma-se a isto o fato de que significativos investimentos em laboratórios de pesquisa em ciências biológicas e o fluxo contínuo de novos conhecimentos na área não se refletem em novas soluções terapêuticas, como fármacos e produtos da bioengenharia, e sua aplicação na prática clínica.

 

3) Quais os benefícios da associação entre a UNIGRANRIO, o INMETRO e a UEZO?

Virginia Genelhu: A associação das três instituições, reunindo um grupo bastante diversificado de pesquisadores, propicia a oportunidade singular de se dispor de uma rede efetiva de linhas de pesquisa nas quais se compartilham interesses e expertises comuns e, por consequência, a integração, em todos os níveis, dos participantes dessas linhas de pesquisa. Outra vantagem é a complementação de recursos estruturais de laboratórios, incluindo os de bioimagem, biobancos, recursos de bioinformática e bibliotecas. Igualmente importante é a convivência e intensa interação entre os que participam da rede, em que se destacam: os que se dedicam aos aspectos básicos dos sistemas biológicos estruturados nos “omas”: genoma, transcriptomas, proteomas e metabolomas, os que estão atentos ao contínuo progresso da bioinformática e tecnologias da internet, os que estão engajados na medicina e odontologia clínicas respaldadas em evidências científicas e que envolvem o paciente e aqueles que procuram soluções terapêuticas alternativas na bioengenharia tecidual – biomateriais, terapia celular e medicina regenerativa. O grupo de pesquisadores que faz parte do núcleo docente do Programa de Biomedicina Translacional tem plena consciência das vantagens e benefícios do Programa para a área de ciências da vida e não ignoram os desafios a serem superados na implantação e consolidação de um programa de pós-graduação com as características do BIOTRANS.

 

4) Qual o perfil do corpo docente do BIOTRANS?

Virginia Genelhu: O Programa reúne no seu corpo docente pesquisadores jovens e pesquisadores seniores. Os jovens que por isso ainda não tiveram tempo e oportunidade de se exporem suficientemente às tarefas de orientação de pós-graduandos, são, porém, genuínos talentos para a investigação científica e biotecnológica, reunindo número relevante de publicações científicas em periódicos de impacto na área de saúde. Aos pesquisadores seniores com grande experiência em pós-graduação, reconhecido prestígio científico e volume considerável de financiamentos das agências oficiais de fomento à pesquisa, atribuiu-se a tarefa de propor e organizar um projeto inovador, ao qual contribuirão com sua maturidade intelectual e experiência, possibilitando, desta forma, o aprimoramento das habilidades docentes e de orientação de seus companheiros mais jovens, em parceria tangível, agregadora e saudavelmente multiplicadora. Ao todo, o corpo docente do Programa de Pós-graduação em Biomedicina Translacional reúne 25 docentes permanentes, mais 2 colaboradores, sendo 14 da Unigranrio, 6 do INMETRO e 4 da UEZO. Entre os professores, 7 têm bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq, dos quais 5 no nível 1, além de 5 Cientistas e um Jovem Cientista do nosso Estado.

 

5) Como se dará a relação entre teoria e prática?

Virginia Genelhu: O BIOTRANS, ao estabelecer a área de concentração e suas três linhas de pesquisa, se preparou para dar início à implementação de um dos mais promissores projetos de pesquisa contemporânea – o de desenvolver estratégias para consolidar uma consciência de ciência translacional. Espera-se que o pós-graduando do BIOTRANS adquira os conhecimentos teóricos fundamentais estabelecidos pelo Programa, ao atender para isso ao cumprimento das disciplinas obrigatórias e ao elenco de disciplinas eletivas, selecionadas com a participação do orientador. Para o pleno domínio da metodologia de trabaho, os mestrandos e doutorandos desenvolverão atividades nos laboratórios de pesquisa e nos cenários clínicos, de modo a estarem aptos a realizar a dissertação ou tese em ciência translacional.

 

6) Qual o perfil esperado do egresso?

Virginia Genelhu: O BIOTRANS propõe oferecer aos alunos ingressantes a oportunidade de aquisição e aprimoramento de suas competências e que ele acabe sendo também capaz de divulgar e direcionar os resultados de suas pesquisas em publicações de alto impacto acadêmico. Atuações articuladas e frequentemente compartilhadas de professores e pesquisadores da UNIGRANRIO, UEZO e INMETRO, alicerçadas em atividades desenvolvidas em cenários clínicos e na infraestrutura de laboratórios, contribuirão para conferir ao egresso do Programa um perfil de qualificação que o torne capaz de transitar entre as ciências básicas e aplicadas, com competência apropriada para fortalecer as iniciativas acadêmicas e o segmento produtivo que atendem à demanda de novas intervenções terapêuticas.

 

7) Quais os diferenciais do Programa no Estado do Rio de Janeiro?

 Virginia Genelhu: Em que pese a alta concentração de programas de pós-graduação geograficamente situados na região central e adjacências do Rio de Janeiro [Ilha do Fundão (UFRJ), Vila Isabel (UERJ), Niterói (UFF) e Seropédica (UFRRJ)], não se registra a necessária irradiação dos mesmos para os polos regionais da Baixada e Zona Oeste do Rio de Janeiro (Campo Grande). Em contrapartida, essas regiões apresentam nos últimos anos expressivo desenvolvimento econômico, com intensa mudança no setor de serviços que se reflete em maior oferta de empregos para atender aos setores terciários da economia. Por outro lado, em função do seu crescimento populacional, principalmente de jovens, inúmeras instituições de ensino superior têm se instalado na região. Embora universidades públicas tenham extensões de seus campi nessa área geográfica, e genuinamente se esforçem para propiciar oferta de programas de pós-graduação, a dimensão da oferta é discreta diante do enorme potencial de demanda, particularmente em relação à área de Biomedicina e Biotecnologia. Ademais, não existe nessas regiões nenhum Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Biociências que possa ser considerado de excelência. Decidiu-se, assim, que valeria a pena implantar uma nova ambiência de pesquisa e pós-graduação em Ciências da Vida nessa área de grande densidade populacional e importante diversidade social, cultural e econômica.

 

8) Como está organizada a estrutura curricular nos cursos de mestrado e doutorado do BIOTRANS?

Virginia Genelhu:  A estrutura curricular e a proposta como um todo – incluindo o regulamento – foram construídos ao longo de quase um ano de diagnóstico e avaliação de contribuições específicas a partir da história e das vocações de cada Instituição. As disciplinas foram idealizadas de maneira coletiva após definições acerca do perfil do egresso e da contextualização da proposta em todos seus aspectos. Elas se encontram distribuídas de maneira equilibrada e com responsabilidades compartilhadas entre docentes das três Instituições. O Programa tem uma única Área de Concentração: Dos Sistemas Biológicos à Biomedicina Translacional e três linhas de pesquisa: Biomarcadores, Bioimagem e Bioengenharia Tecidual. Embora robustas individualmente, a Área de Concentração, as Linhas de Pesquisa e as 22 Disciplinas, 4 obrigatórias e 18 eletivas, dialogam entre si e são permeadas por uma abordagem multi e interdisciplinar.

9) Como está organizada a coordenação acadêmica e administrativa do BIOTRANS?

Virginia Genelhu: O BIOTRANS tem características especiais e especificidades de um Programa por Associação de Instituições de Ensino e Pesquisa. A UNIGRANRIO, o INMETRO e a UEZO estabeleceram um convênio de cooperação para oferecer, de maneira integrada, infraestrutura de pesquisa, didática e administrativa. O Programa de Biomedicina Translacional conta com um Coordenador Geral, apontado entre os professores da Unigranrio, e com um Coordenador Adjunto em cada Instituição Associada. O objetivo desta coordenação plural é garantir o desenvolvimento pleno de todas as atividades relacionadas ao Programa, estabelecer facilidades de interlocução com o pós-graduando, propor e implantar soluções visando à integração ampla nas atividades de formação.

A UNIGRANRIO, como instituição proponente, disponibilizou para o Programa, no Campus I, em Duque de Caxias, espaço físico próprio para o desenvolvimento das atividades de ensino e administrativas, com salas específicas para: secretaria executiva, coordenação, reuniões do colegiado e convivência de pesquisadores e estudantes. Estão sendo planejados, e em breve estarão disponíveis, auditórios com estrutura física e todos os recursos de multimídia para teleconferências nacionais e internacionais.

Para as atividades de pesquisa, a UNIGRANRIO, o INMETRO e a UEZO contam com ampla rede de laboratórios que estão disponíveis a todos os estudantes e docentes do Programa para o desenvolvimento de projetos com características interdisciplinares. Além dos laboratórios, a UNIGRANRIO, conta com cenários clínicos, que permitirão a pesquisa translacional, conforme a proposta do Programa.

 

10) De que forma o Programa pode contribuir para a área de saúde na Baixada Fluminense a médio e longo prazos?

Virginia Genelhu: O BIOTRANS tenciona estabelecer uma forte presença na realidade social da região, através do compromisso de seus docentes e estudantes em assumir o papel de agentes divulgadores da ciência e de ascensão social. Além disso, o BIOTRANS compreende a necessidade de formação de egressos com visão crítica sobre a aplicabilidade pragmática dos resultados de suas dissertações e teses.

Desde 2012, UNIGRANRIO e INMETRO mantêm convênio de cooperação nas áreas de saúde, biomateriais e meio ambiente. A Clínica de Odontologia da UNIGRANRIO está credenciada pelo INMETRO para avaliar a qualidade de implantes dentários submetidos ao mesmo para obter certificação. Isto é feito pela análise laboratorial, e posterior ensaio pré-clínico em pacientes selecionados e tratados nas dependências da Clínica Odontológica.

No BIOTRANS, um dos projetos âncora é a Avaliação de biomarcadores de risco cardiometabólico na saliva de crianças e adolescentes brasileiros de origem multiétnica como preditores de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), hipertensão arterial e doença cardiovascular. O projeto, baseado em evidências de que o excesso de peso está associado a complicações cardiometabólicas, tem alcance social e está inserido em área geográfica de grande prevalência de obesidade e suas complicações. Trata-se de um estudo prospectivo e as avaliações serão feitas ao longo de 25 anos.

Destacam-se ainda no BIOTRANS os projetos que se debruçam sobre as doenças negligenciadas, abordando tópicos especiais relacionados à epidemiologia em evolução, às estratégias de prevenção e novas medicações e ao desenvolvimento de vacinas.

 

11) Como se dá a aproximação da Pós-graduação do Setor de Serviços?

Virginia Genelhu: Na Baixada Fluminense, o Biotrans e seus projetos de pesquisa contribuirão com a geração de recursos humanos altamente qualificados para o segmento produtivo da região e seu Setor de Serviços, onde se destacam: 1. A Nortec, em Duque de Caxias, é a maior indústria de produção de insumos farmacêuticos ativos da América Latina, que são essenciais para a Saúde Pública do Brasil, especialmente para as Doenças Negligenciadas (malária, Doença de Chagas, toxoplasmose, filariose); 2. O Parque Industrial da Bayer, primeira planta de produção da Empresa no Brasil e instalado em Belford Roxo.

Ainda, na abrangência geográfica e logística do Programa, na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, registra-se uma densidade expressiva na capacidade de produção de Medicamentos/Fármacos, além de abrigar importante Polo Farmacoquímico. Destacam-se, entre outros, a GlaxoSmithKline Brasil, os Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos, a Merck S/A, o Biomerieux Brasil, o Laboratório Canonne e os Laboratórios Bagó Brasil. O INCT-BIOFABRIS, que integra aspectos computacionais, novas técnicas de processamento e desenvolvimento de biomateriais, estratégias de engenharia bio-inspiradas (biomimetismo), além dos conceitos fundamentais de biologia celular e suas aplicações em Engenharia Tecidual, tem um de seus campi instalado na Ilha da Cidade Universitária (UFRJ). Assim, a necessidade de pessoal altamente qualificado, crescente nesses segmentos, poderá então contar com o respaldo indispensável da pesquisa e da formação pós-graduada.

 

 

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